
ana jácomo
Adorar-te e encontrar-te em teu altar
E encontra-me a mim a verdade que sou eu
Contemplar o teu olhar em meu pobre olhar
E entender que nada sou diante de ti
E os meus desejos e anseios por ti em minh'alma
Adentrar
Meus pensamentos, razões que se dobram
Perante teu amar
E me faz ver mais além do que os olhos
Podem ver
Sobre véus desse amor seu mistério de luz
E não há nada maior do que essa presença
A me embalar
Os meus tormentos, sofreres, angústias aos
Teus vão se juntar
Tudo pra te consolar
Imolado quero estar
Estando unido a ti no sacrifício da cruz
Adoramos o verbo
Encarnado eterno
Nos prostramos aqui
Para te Adorar
Adoramos o verbo
Encarnado eterno
Que se dá em alimento
Corpo e sangue para nos alimentar.
''Sou dessa leva de gente que tem como sina ver demais. Sentir demais [...] Traço de nascença, uma estranha dádiva que, durante temporadas, pra facilitar a própria vida, egoísmo que seja, a gente tenta disfarçar de tudo que é maneira que aprende. Mas não tem jeito, nunca terá, nascer assim é irremediável, o que é preciso é desaprender o medo.
Por tudo o que é mais sagrado nesse mundo e em quaisquer outros que não tenho certeza se existem, mas suspeito, muitas vezes eu desejei não ver tanto. Criança, quando senti isso sem saber palavras, inventei minha miopia. Não adiantou: o encurtamento dos olhos é só do lado de fora, por dentro eu vejo muito comprido. Alguns sentem vida, sentem beleza, sentem amor, com doses de conta-gotas. Eu, não: é uma chuvarada dentro de mim.
Que os sensíveis sejam também protegidos. Que sejam protegidos todos os que veem muito além das aparências. Todos os que ouvem bem pra lá de qualquer palavra. Todos os que bordam maciez no tecido áspero do cotidiano. Todos os que propagam a bondade. Todos os que amam sem coração com cerca de arame farpado. Que sejam protegidos todos os poetas de olhar e de alma, tanto faz se dizem poesia com letras, gestos, silêncios ou outro jeito de fala. Que sejam protegidos não por serem especiais, que toda vida é preciosa, mas porque são luzeiros, vez ou outra um bocadinho cansados, no escuro assustado e apertado do casulo desse mundo.''
Ana Jácomo