segunda-feira, 6 de maio de 2013

Gosto mais de conversar, que de beijar

Em dias como hoje, o desejo de possuir alguém me vem como água a um sedento no deserto. Têm dias que você nem queria beijo, só abraço, um papo, um trato, um dorme bem. A gente sente falta de uma conversa depois do trabalho, uma atenção extra. Um desejo atendido.

Todos passam por dias de carência excessiva, onde qualquer resposta mal dada, te tira o brilho dos olhos. Todos passam por dias de cão, de gato, de caça, de caçador. Todo mundo tem altos e baixos. Especialmente nos picos e nos poços mais fundos, os desejos de possuir alguém se acentuam.

Valorizo as pessoas com quem posso conversar. Essas são as mais raras. Dificilmente a gente encontra alguém que o papo casa, que as palavras batem, que as frases se completam. Vez ou outra, a gente esbarra em gente até completa ou vazia, mas falta papo. A gente enrola, protela, mas no fim, não conversa.

Nasci falante por natureza. Gosto mais de conversar, que de beijar. Apesar de achar que as duas coisas sempre vêm a calhar. Não sei, estranhamente sempre valorizei mais as trocas, ou as coisas que podemos nos acrescentar, do que essas coisas feitas pra ostentar.

Não gosto só da beleza física, procuro sempre algo no olhar. No jeito de falar. Na maneira de caminhar. A fascinação que as pessoas têm tá no jeito que elas sorriem enquanto falam. Ou só sorriem, ou só falam. Cada um tem um jeito diferente de encantar.

Acho mesmo, que o melhor de se possuir alguém, é ter aquele alguém com quem conversar. Ligar no meio do dia só para contar que ouviu no rádio aquela música que teve gosto daquele beijo. Ou chegar ao fim do dia, e mandar uma mensagem dizendo que, assim, como quem não quer nada, abraçou o travesseiro e lembrou do cheiro.

Daí a gente dorme. Dorme porque isso ainda se pode. Não de conchinha, mas dorme. Daí a gente sonha. Não com alguém, mas com o desejo de ir além. Daí a gente acorda. Não ouvindo um “bom dia”, mas torcendo pra ser. Daí a gente vive. Não só por viver, mas pra tirar do singular, tudo que a gente sonhou plural.
(Matheus Rocha)

domingo, 5 de maio de 2013

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"Em muitos trechos do caminho, às vezes bem longos, carregamos muito peso na alma sem também notar.
A gente se acostuma muito fácil às circunstâncias difíceis que às vezes podem ser mudadas.
A gente se adapta demais ao que faz nossos olhos brilharem menos.
A gente camufla a exaustão.
A gente inventa inúmeras maneiras para revestir o coração com isolamento acústico para evitar ouvi-lo.
A gente faz de conta que a vida é assim mesmo e ponto.
A gente arrasta bolas de ferro e faz de conta que carrega pétalas só pra não precisar
fazer contato com as nossas insatisfações e agir para transformá-las.
A gente carrega tanto peso, no sentimento, um bocado de vezes, porque resiste à mudança.
Até o dia em que a alma, cansada de não ser olhada, encontra o seu jeito de ser vista e de dizer quem é que manda."
(Ana Jácomo)