sábado, 9 de julho de 2011

Meu imaginário, que coisa, criou um namorado

Sentada na varanda de casa, uma dor, a espera de um amor que nunca vem. Virá? Olhando os casais que passam pela rua. Cada um age de uma forma diferente com seu amor. Um, segura a mão da namorada e tem um olhar perdido para o infinito. Então penso que não queria um namorado assim tão disperso. O outro fala com a namorada de uma forma carinhosa demais. Mas muito afeto também não me agrada. Até carinho é algo que precisamos na medida certa. Alguém aí tem um dosador?
Resolvo descer as escadas, rumo a cozinha, quero tomar um xícara de café. Confuso demais olhar casais quando se está sozinha. Dizem que café ajuda nessas horas em que a mente ta igual ninho de pássaro. Sem os pássaros. Não há café, assim como não há fé. Foram embora há tempos. Fui pro quintal pra ver se consigo alargar a alma, juntar tudo com o azul cegante do céu sem volta. Deitada na grama, pensei que seria legal ter alguém ao meu lado, pra ficarmos como nos filmes. Lado a lado. Pé com pé, amor com amor, cumplicidade com cumplicidade. Tudo junto.
Meu namorado imaginário é mais que fé, é também fortaleza e amor. Ele é palhaço, mas só as vezes. Quando penso que está brincando, ele ta falando sério. Gosto de ver ele tão sério assim, com um ar de quem sabe demais. As vezes eu finjo que não entendi algo pra ver ele me explicando detalhadamente o assunto. Entendeu amor? Aham, entendi amor. Me liga no meio da tarde pra perguntar se já almocei. Já amor, já almocei. E você? Você sabe que considero o almoço a refeição mais importante do dia. É que ele gosta de lutar por suas próprias ideias, mesmo quando todos os médicos e nutricionistas (ou quase todos) dizem que importante mesmo é o café da manhã. Ele nunca briga comigo pelo que fiz, só pelo que deixei de fazer, e são tantas coisas, ele diz. E eu concordo, não porque sou submissa, mas porque sei que ele, mais do que ninguém quer o meu bem e me conhece. Ele não gosta que eu me importe com o que pensam de mim. E traz flores todo dia. Mas não são quaisquer flores e sim as únicas flores que realmente me encantam no mundo: Gérberas e girassóis. As gérberas sempre laranjas.
Ele sabe que chego do trabalho as 18h30 e que chego muito cansada. Ele sabe que não gosto de trazer trabalho pra casa. Traz chocolate quente pra gente tomar enquanto conversamos sobre diversos assuntos (desde astrologia ao porque do Charlie Brown não ir atrás da menininha ruiva) ou enquanto assistimos a meus filmes preferidos. Filmes, aliás, que eu nem sequer disse a ele que eram meus preferidos, ele descobriu pelo meu brilho no olhar enquanto falava da atuação da Audrey do “Bonequinha de Luxo” e da Audrey do “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”. Ele não gosta de filmes, mas assiste porque sabe que eu gosto, ele gosta mesmo é de ler. E ele fica um tanto sexy quando coloca aquelas armações azuis só para leitura. Ele é forte, mas não do tipo musculoso, ele é forte por dentro. Tem uma força que ninguém consegue conter. Ele é meu super-homem. Ele voa e me faz voar com um simples abraço. Eu disse simples? Abraço dele não é simples, abraça-lo é abraçar o que o mundo tem de melhor. É começar a entender o que chamam de paraíso. Beija-lo é como tocar estrelas. Com ele eu toco estrelas toda hora.
Ele não se importa se eu fico em silêncio porque sabe que o silêncio é algo que se faz necessário em nossas vidas. Ele é o silêncio, é a conversa, a gargalhada e a seriedade, é adulto, mas sem esquecer da criança que um dia foi. Tudo na medida certa. Sabe aquelas pessoas que fecham os olhos quando sorriem, como se nem o corpo pudesse conter tamanha alegria? Uhum, ele também é assim. Ele é tudo que eu pedi e ainda não veio. Mas enquanto descrevo meu namorado imaginário fico aqui torcendo pra que alguém exatamente assim leia o que escrevi e me faça acreditar que sonhos podem sim, se tornar realidade. Ou que namorados que nos fazem bem, não existam só em nossa cabeça, mas existem além e conosco sempre que precisarmos de um (como diria Caio F.) ser conjunto ao nosso pra ficar deitado vendo filme em dia de chuva e frio. Ah sim, ele gosta de Caio F. tanto quanto eu. 

Noemyr Gonçalves 

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