segunda-feira, 28 de março de 2011

O Menino que Carregava Água na Peneira

Fiz  uma prova em uma empresa pra ver se melhoro a vida ''mais um cadinho'', e eis que uma questão vinha acompanhada de uma poesia de Manuel de Barros e eu como apaixonada por sua obra, me deliciei lendo mais uma poesia dele! O discurso da delicadeza, Manuel de Barros... Enjoy!

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. 
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água 
O mesmo que criar peixes no bolso. 

O menino era ligado em despropósitos. 
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. 

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. 
Falava que os vazios são maiores e até infinitos. 
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo 
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. 
O menino aprendeu a usar as palavras. 
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. 
E começou a fazer peraltagens. 

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. 
O menino fazia prodígios. 
Até fez uma pedra dar flor! 

A mãe reparava o menino com ternura. 
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. 
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios com as suas peraltagens 
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos 

Manoel de Barros, O menino que carregava água na peneira.

Um comentário:

  1. Boa noite Kelly,
    Lindíssimo esse poema, lembro-me quando o li pela primeira vez, estava numa mensagem homenageando o dia do estudante, me amarrei.
    Ah! Boa Sorte! Que Deus dê um sopro a seu favor, basta isso para conquistar tudo que quiser.
    bjim

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